
Dados fracos de indstria, comrcio e servios, principais motores do crescimento, apontam para queda do Produto Interno Bruto no segundo trimestre. Para especialistas, preciso priorizar o avano de privatizaes e da reforma tributria (Por Simone Kafruni)
O Brasil mal saiu de uma recesso e j caminha para outra. Os dados de maio dos trs principais setores produtivos — indstria, comrcio e servios — mostram a paralisia da economia. Para alguns especialistas, o fraco desempenho das atividades ter impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2019, que pode ser negativo. Como nos primeiros trs meses do ano, o indicador, que representa a soma de toda riqueza produzida no pas, recuou 0,2%, sero dois trimestres seguidos de queda, o que configura recesso tcnica.
O volume de servios no Brasil ficou estvel (0,0%) em maio na comparao com o ms anterior, aps ter avanado 0,5% em abril, quando interrompeu trs taxas negativas seguidas, com perda acumulada de 1,6%, divulgou nesta sexta-feira (12/7) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). A produo industrial caiu -0,2%, e as vendas do comrcio recuaram 0,1% na mesma comparao, de acordo com outras duas pesquisas do rgo. Apenas o varejo ampliado, que inclui veculos e material de construo, teve alta de 0,2% em maio.
Para Andr Perfeito, economista-chefe da Necton, o pas est entrando numa recesso tcnica. “Os dados so muito fracos, indstria caiu, varejo, tambm, servios no zero a zero. Pelo nosso modelo de projeo, o PIB ter queda de 0,1% no segundo trimestre, aps a contrao de 0,2% no primeiro”, destacou.Continua depois da publicidade
Conforme Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Servios (PMS) do IBGE, o setor est 1,1% abaixo do patamar de dezembro de 2018. “Houve perda de dinamismo, sobretudo no segmento de transportes (-0,6%), que recua pelo segundo ms consecutivo 0,6%”, disse.
Fabio Bentes, economista-chefe da Confederao Nacional do Comrcio de Bens, Servios e Turismo (CNC), destacou que o quadro preocupante. “Os trs motores pela tica da oferta continuam apresentando desempenhos decepcionantes”, assinalou. O especialista lembrou que servios e indstria, juntos, representam mais da metade do PIB brasileiro. “Com zero contribuio do comrcio, a leitura que a economia no saiu do lugar”, afirmou.
Antes da ltima safra de dados, a CNC projetava alta de 0,2% no PIB do segundo trimestre. “Como os dados vieram fracos, vai dar algo prximo de zero. O primeiro semestre foi perdido”, lamentou Bentes. Para o ano, a previso de alta de 0,9%, que pode ser revista para 0,7% ou 0,8%.
Segundo Flvio Castelo Branco, gerente executivo de Poltica Econmica da Confederao Nacional da Indstria (CNI), o setor est no patamar de oito anos atrs. “Estamos estagnados depois de uma grande recesso. como se o pas tivesse cado 10 degraus e no conseguiu se equilibrar para subir de volta”, comparou.
Castelo Branco destacou que o setor industrial perdeu participao no PIB. “Mas toda a economia est parada. A demanda no se recuperou. As famlias melhoraram, mas no recuperaram o consumo. As empresas esto produzindo menos e no investem, porque h capacidade ociosa”, explicou.
No entender de Julio Gomes de Almeida, diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), tecnicamente cedo para se falar em recesso. “No temos os dados de dois trimestres seguidos. A indstria, sim, porque j acumula quedas seguidas. Servios e comrcio, ainda no. Em maio, tudo muito prximo de zero”, alertou.
Almeida ressaltou, contudo, que se dependesse da indstria, o pas j estaria em recesso. “Agora, o comrcio, no acumulado, cresceu 0,7% aps expanso de 3,2% no mesmo perodo do ano ado. Ou seja, no est no negativo, mas est perdendo velocidade. O setor de servios demorou mais para entrar em crise, mas tambm o ltimo a se recuperar”, avaliou. “Ou seja, a indstria anda de r, o comrcio est desacelerando fortemente, e os servios esto andando de lado. Se isso vai dar em recesso? Minha opinio que esse quadro no muda em 2019. Vamos fechar cinco anos em crise”, opinou.
Para o pas reagir, conforme Castelo Branco, preciso que o governo priorize uma agenda mais ativa. “A reforma da Previdncia andou, mas est travando todo o resto. preciso que outras pautas avancem, como as privatizaes, a reforma tributria. H espao para um corte de juros. Precisamos de novas fontes de financiamento. Alguma coisa precisa ser feita para tirar a letargia da economia”, destacou o gerente da CNI.
Paralisia: Produo industrial, volume de vendas do comrcio e de servios esto estagnados
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Servios
Perodo Variao (%)-Volume-Receita Nominal
Maio 19 / Abril 19*-0,0-0,6
Maio 19 / Maio 18-4,8-9,2
Acum. Janeiro-Maio-1,4-5,1
Acum. 12 Meses-1,1-4,3
Indstria
Perodo-Variao produo (%)
Maio 19 / Abril 19*--0,2
Maio 19 / Maio 18-7,1
Acum. Janeiro-Maio--0,7
Acum. 12 Meses-0,0
Comrcio
Perodo Varejo Varejo Ampliado**
Volume de vendas Receita Volume de vendas Receita
Maio / Abril*/-0,1/0,8/0,2/0,9
Mdia mvel trimestral*/-0,1/0,5/0,5/0,9
Maio 2019 / Maio 2018/1,0/5,8/6,4/10,0
Acumulado 2019/0,7/5,0/3,3/6,7
Acumulado 12 meses/1,3/5,3/3,8/7,0 (Fonte: IBGE)
(Fonte: Correio Braziliense)