(Felipe Marques)
Depois de entrarem em xeque alguns anos atrs e ar por um processo de enxugamento e remodelagem, as parcerias entre bancos e redes de varejo para financiar o consumo voltaram a apresentar bons resultados em 2014. Mesmo nos varejistas que atuam sem uma instituio financeira parceira, os ganhos com cartes e financiamentos aceleraram no ano ado, a despeito do fraco ritmo das vendas.

Nos nove primeiros meses de 2014, o lucro lquido das cinco operaes financeiras de varejistas de capital aberto foi de R$ 597,1 milhes, um avano de 83,2% ante igual perodo de 2013. A cifra inclui os resultados das empresas de Po de Acar, Marisa e Magazine Luiza istradas pelo Ita Unibanco e tambm de Riachuelo e Renner.

Outra grande operao de varejo, o Banco CSF, dividido entre Carrefour e Ita, teve lucro lquido de R$ 186,5 milhes no primeiro semestre de 2014, dado mais recente disponvel. O resultado foi quase do mesmo tamanho do obtido em 2013 todo (R$ 212,1 milhes). O Banco Ibi, que nasceu na C&A e hoje pertence ao Bradesco, no divulga mais resultados.

A melhora no desempenho foi produto de uma combinao de fatores. Depois da onda de calote que pressionou o crdito s famlias em 2011 e 2012, bancos e varejistas aperfeioaram os modelos estatsticos que simulam a capacidade de pagamento dos tomadores, de modo a torn-los mais assertivos. Com isso, houve reduo da inadimplncia e das provises para cobrir perdas com crdito.

As instituies tambm buscaram ganhos de eficincia. Do lado dos bancos, houve corte no nmero de parcerias. O caso mais icnico o do Ita, que, desde a fuso com o Unibanco, encerrou mais de 300 associaes de pequenos comrcios a grandes redes. Sobraram cerca de 12 operaes. O Bradesco tambm revisou algumas de suas alianas.

"As nossas parcerias envolvem um projeto de fidelizao que pede uma escala em termos de custos, que algumas pequenas parcerias no tinham", afirma Marcos Magalhes, diretor da rea de cartes do Ita Unibanco. A viso do executivo que as associaes que restaram so um meio para fidelizar o correntista tanto loja como instituio financeira, e no um veculo para tomadores de baixa renda. Ele compara o modelo aos cartes partilhados com companhias areas. " preciso um alinhamento de estratgias e de incentivos entre varejo e banco para a operao dar certo", diz Magalhes.

Um nmero menor de parcerias ajudou os bancos a manejar melhor a relao por vezes difcil com o varejo. Isso porque justamente quando o comrcio tem dificuldade de vendas, em fases de economia fraca, que as instituies costumam ficar mais rigorosas na seleo dos tomadores. Combinao que cria terreno frtil para conflitos.

No caso do Ita, uma forma de tentar aumentar a aprovao de clientes para crdito sem agravar o risco de calotes foi criar uma espcie de modelo estatstico personalizado para as parcerias. "H dados que o varejo tem sobre os clientes que podem ser usados para calibrar melhor o modelo de crdito e resultar em algo sob medida para os clientes daquele varejo", conta Magalhes.

A Luizacred, parceria entre Ita e Magazine Luiza, um caso emblemtico da melhora de resultados. A operao obteve lucro lquido de R$ 124,3 milhes nos nove primeiros meses de 2014. Em 2012, em igual perodo, estava no vermelho, com prejuzo de R$ 6,3 milhes. Foram pagos varejista R$ 298 milhes no acordo firmado em 2009 pelo Unibanco.

Se os resultados das parcerias que o Ita tem com varejo vm melhorando, seu grande rival, o Bradesco, tem fechado novos acordos. A lista mais recente inclui a rede de agncias de viagens CVC, a de materiais esportivos Centauro e, desde novembro, a Lojas Americanas. "Temos grandes redes internacionais que abriram lojas no Brasil e so uma oportunidade para os bancos", afirma Carlos Giovane, diretor da Bradesco Cartes. Segundo o executivo, o Bradesco ou os ltimos anos unificando a gesto das parcerias em uma plataforma nica, que evoluiu a partir da compra do Ibi, em 2009, por R$ 1,4 bilho. Com essa estrutura, o banco saiu em busca de novos lojistas.

Alm da C&A, o Bradesco tambm tem parcerias com Casas Bahia, Lojas Colombo e os supermercados brasileiros da Cencosud (GBarbosa, Bretas), e as redes Makro e Angeloni. "Confiamos que o modelo de crdito interno do banco seja capaz de mitigar a manipulao de dados na ponta", afirma Neves.

A manipulao da ficha do cliente, na tentativa de aumentar a aprovao, um risco maior em parcerias em que o varejo ganha comisso por produto financeiro vendido, mas no arca com a inadimplncia gerada. Ou seja, o varejista uma espcie de correspondente bancrio da instituio financeira.

o modelo de associao que o Bradesco tem com a Casas Bahia e agora com a Lojas Americanas. Outra opo banco e varejo criarem um modelo em que dividem o resultado da operao financeira, embora caiba ao banco a aprovao do crdito. O caso da Lojas Americanas um exemplo de como a relao entre bancos e varejo mudou ao longo da dcada. Em fevereiro de 2005, poca de ouro das parcerias, o Ita anunciou que criaria uma tventure com a rede.

O acordo custou R$ 250 milhes para o banco, pagos como uma espcie de adiantamento. Com previso para durar at 2026, a aliana foi desfeita em 2012, depois de sucessivos prejuzos. Dois anos depois, em novembro de 2014, a Americanas firmou acordo com o Bradesco, mas em condies bem distintas. No lugar de uma tventure, o banco vai tratar a Americanas como um correspondente bancrio e remunerar a varejista por produto financeiro vendido. Ou seja, as receitas e os riscos de crdito ficam apenas com o Bradesco. Mais importante, o banco no pagou qualquer tipo de adiantamento rede por isso.

No s as parcerias ligadas a bancos melhoraram seus resultados no ano ado. A Midway, financeira criada pela Riachuelo, registrou lucro lquido de R$ 136,6 milhes nos nove primeiros meses de 2014, cifra 66% superior de igual perodo em 2013. Apenas para fins de comparao, no mesmo intervalo de 2013, o resultado caa 1,7% ante 2012. Procurada, a Riachuelo no comentou o tema.

Na Renner, o lucro lquido do operao financeira subiu 31,3% na mesma comparao, somando R$ 175,5 milhes. A Renner anunciou recentemente o fim de sua carreira solo no mundo das finanas e firmou uma aliana com o Banco Indusval & Partners para a operao de cartes.

Pelo desenho, o banco cuidar da emisso das bandeiras Visa e MasterCard, enquanto a Renner ficar responsvel pela distribuio e relacionamento com os clientes. O resultado ficar com o banco, com a garantia de uma rentabilidade mnima sobre o capital envolvido, enquanto a Renner ganhar uma comisso para executar a linha de frente da operao. (Fonte: Valor Econmico)