Bancos culpam economia fraca por queda mais lenta nas taxas de juros; inadimplncia tem crescido neste ano, principalmente no crdito aos consumidores - Gabriel Cabral/Folhapress
Alm disso, a inadimplncia tem crescido neste ano, principalmente no crdito aos consumidores (rica Fraga)
A retomada de cortes dos juros bsicos da economia pelo Banco Central reacendeu a discusso sobre o ritmo de reduo das taxas de emprstimos bancrios.
Na contramo da Selic, que iniciou 2019 em 6,5% e, aps duas redues desde julho, chegou a 5,5%, a taxa dos financiamentos bancrios subiu de 37,7% para 37,9% anuais no mesmo perodo.
Por trs dessa tarifa mdia, h dois movimentos distintos. Os juros cobrados de empresas caram de 20,4% para 18,9%; enquanto as taxas pagas pelas pessoas fsicas aram de 51,3% para 52,1%
Dentro desses dois grupos, existem subcategorias com tendncias tambm distintas. Para ficar em dois exemplos: o consumidor pagava, em mdia, 22,4% para comprar um veculo financiado no incio do ano, atualmente, essa taxa de 20,1%.
Mas, no caso do carto de crdito parcelado, houve um aumento dos juros anuais de 163,1% para 177,3%. Os dados so do Banco Central e no incluem o crdito concedido em linhas subsidiadas.
Segundo Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban (Federao Brasileira de Bancos), a expanso lenta da economia aumenta a percepo de riscos dos bancos, freando uma queda mais acelerada dos juros. “O aumento da inadimplncia, a queda lenta do desemprego e o baixo crescimento da renda criam alguma cautela do ponto de vista de quem est concedendo o crdito”, diz.
Mas ele ressalta que, nos ltimos meses, quando a Selic voltou a ser reduzida, as taxas de algumas linhas —como cheque especial e crdito pessoal no consignado— caram, proporcionalmente, mais do que a Selic, embora os juros do carto de crdito tenham subido.
A persistncia de uma grande diferena entre o nvel dos juros bsicos e dos financiamentos bancrios alimenta questes que tm ganhado espao no debate econmico.
Ser que as instituies financeiras ream seu menor custo de captao para os consumidores na mesma velocidade com que reagiam aos movimentos da Selic no ado? Ou fazem esse ajuste em ritmo mais lento, embolsando parte da diferena para manter sua alta rentabilidade?
A preocupao em investigar essas perguntas se torna mais premente medida em que o pas atinge juros bsicos cada vez menores historicamente e a economia, a despeito disso, demora a reagir.
Clculos feitos pelo economista Mrcio Issao Nakane, da USP (Universidade de So Paulo), a pedido da Folha, indicam que os juros bancrios esto respondendo, no mesmo ritmo de sempre, a mudanas nos fatores que mais o influenciam. Ou seja, segundo ele, que estuda o tema, o custo do endividamento reage queda dos juros bsicos conforme o esperado.
O problema, diz o pesquisador, que, no Brasil, outros fatores tm peso significativo no chamado spread bancrio, diferena entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que cobram em seus financiamentos.
Um deles, a inadimplncia, tem se movido em direo contrria aos juros bsicos neste ano, principalmente no segmento de crdito aos consumidores. “Pesquisas recentes mostram que a inadimplncia um fator que precisamos olhar com ateno no Brasil. O que esse modelo captou est de acordo com esse diagnstico”, diz Nakane.
Depois de registrar tendncia de queda desde o fim de 2016, afatia inadimplente das carteiras de emprstimos s famlias subiu nos ltimos meses, atingindo 4,88% do total em agosto deste ano, nvel mais alto desde outubro de 2018.
O conceito de inadimplncia se refere a parcelas vencidas h mais de 90 dias. O percentual de financiamentos com atrasos entre 15 e 90 dias tambm tem aumentado.
Os dados levantados por Nakane mostram como as taxas mdias cobradas de clientes em operaes de crdito acompanham, desde 2011, os movimentos dos juros de emprstimos entre os bancos —o chamado CDI—, da inadimplncia e dos atrasos inferiores a 90 dias.
A partir de outubro de 2016, quando teve incio o atual ciclo de queda da Selic, o modelo busca estimar o comportamento esperado dos juros bancrios com base em sua reao ada a esses trs fatores. No caso dos emprstimos aos consumidores, a taxa projetada para este ano (52,4%) muito prxima aos juros cobrados, de fato, pelos bancos (52,1%).
J o custo do financiamento atual das empresas (18,9%) est um pouco acima do projetado pelo economista (17,5%).
“Os resultados mostram que a velocidade de reao dos juros queda da Selic est dentro do esperado. Isso muito diferente de dizer que estamos contentes com o nvel das taxas”, diz o pesquisador.
Embora tenha cado de 41,9% entre outubro de 2016 para 31,4% em agosto desde ano, o spread mdio das operaes de crdito no Brasil ainda um dos mais altos do mundo.
Alm das anlises sobre seu ritmo de queda, pesquisas tm investigado por que esse indicador to elevado no pas.
Procura-se entender, por exemplo, a relao entre o impacto da grande concentrao dos ativos nas mos de poucas instituies —os cinco maiores bancos detinham 84,5% do crdito comercial no Brasil no fim de 2018— e o nvel dos juros.
Uma hiptese muito debatida se alta concentrao implica, necessariamente, baixa competio. Alguns estudos indicam que no. Isso ajuda a explicar por que a autoridade monetria brasileira tem tentado transferir o foco da discusso da concentrao para o nvel efetivo de concorrncia.
“Acho que o Banco Central est certo em tentar disciplinar esse debate porque, de fato, h evidncias de que alta concentrao no sinnimo de baixa competio”, afirma Klenio Barbosa, professor da Skema Business School, na Frana.
O economista ressalta que o debate sobre esse tema no Brasil ainda no conclusivo.
H anlises que indicam um nvel saudvel de disputa entre os bancos e outras, como estudos feitos pelo prprio Barbosa, que apontam uma competio menor do que o desejvel.
Em um deles, o economista e dois coautores estimam que, embora a Lei de Falncias aprovada em 2005 tenha contribudo para uma queda dos juros mdios do crdito corporativo, seu efeito teria sido maior se houvesse concorrncia mais acentuada.
Mas Barbosa diz entender decises das autoridades regulatrias de no barrar o movimento de concentrao do setor. “O veto a fuses e aquisies pode inibir ganhos de escala que trazem outros benefcios”, afirma.
A via prefervel, diz o economista, o estmulo que j vem sendo dado pelo BC atuao de outros atores, como fintechs e cooperativas, na concesso de crdito.
Desde novembro de 2018, 13 novas instituies —9 sociedades de crdito direto e 4 sociedades de emprstimo entre pessoas— receberam autorizao para operar. Outros 19 pedidos so, atualmente, analisados pelo BC.
A expectativa que esse movimento aumente a competio, reduzindo juros. Outra mudana o chamado cadastro positivo, que dever entrar em vigor nos prximos meses e facilitar o compartilhamento de informaes sobre o perfil dos tomadores de crdito.
Ao conhecer melhor cada cliente, segundo os defensores da medida, os bancos podem cobrar juros mais baixos dos que tendem a pagar suas parcelas em dia, puxando a mdia das taxas para baixo.
Um entrave importante que, no entanto, persiste a baixa eficincia jurdica. Dados do Banco Mundial mostram que, no Brasil, os bancos recuperam 14,6% dos emprstimos com garantias dados a empresas que entrem em recuperao judicial. Na mdia dos pases emergentes, essa taxa de 52,7%.
Alm disso, esse processo leva quatro anos, em mdia, no caso brasileiro, contra menos da metade em naes com nvel de desenvolvimento parecido.
Para resolver essa questo, novas medidas —como uma reformulao da Lei de Falncias atualmente em anlise pelo Congresso— so consideradas necessrias. (Fonte:Folha.com)
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